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Wes Anderson: o Rei de seus mundos Fantásticos – Pipoca no Ar

Cineasta norte-americano recém vencedor do Oscar faz aniversário nesta quarta-feira de feriado.

Por Renam Linhares

Um prodígio ou um obcecado? No primeiro dia do mês de maio um dos maiores nomes das últimas três décadas do cinema faz aniversário. Wes Anderson é uma daquelas pessoas notáveis, entre tantas outras, que partilham de um mesmo sonho: fazer arte no cinema. Além de cineasta, Wesley Wales Anderson também é ator, produtor e roteirista.

Entre suas várias indicações, Anderson ganhou o Globo de Ouro em 2015 na categoria Melhor Filme com O Grande Hotel Budapeste (2014), o Urso de Prata de Melhor Diretor no Festival de Berlim em 2018 com Ilha dos Cachorros (2018) e o Oscar de Melhor Curta-Metragem em 2024 com A Incrível História de Henry Sugar (2023), apesar de estar ausente na cerimônia para a gravação de outro projeto. 

Foto - site G1

Wes Anderson nasceu em Houston, no Texas. Muito antes de vir a trabalhar com audiovisual, estudou na escola privada St. John’s. Mas, essa escola voltaria para sua vida nas grandes telas, pois no futuro virou cenário para seu filme Bottle Rocket (1996). Já adulto, Anderson cursou filosofia na Universidade do Texas. Já na sua carreira como cineasta, tornou-se globalmente famoso por seu estilo meticuloso, simétrico, cenários, narrativo e fantasioso, carregado de uma certa dose de nostalgia.

Para alguém tão fissurado por ideias simétricas, seu caminho começou a ser escrito por linhas tortas. Não fosse por ter iniciado seus estudos em uma vertente diferente da que viria a seguir, cursando Filosofia na Universidade do Texas, não chegaria a conhecer tão cedo Owen Wilson, seu grande amigo e colaborador de tantos sucessos.

Owen Wilson e Wes Anderson – Site: NME

Falando em colaboradores, quando se é excêntrico e obcecado pela perfeição ao extremo, deve-se saber dar valor aos seus fiéis companheiros e companheiras que, além de tentarem acompanhar, o incentivam sempre a manter o ritmo. Quanto a isso, Anderson não pode dizer que não é fiel. Figuras do mais alto escalão de Hollywood se oferecem para participar dos seus filmes, mas seu plantel é praticamente fixo, com aumentos aqui e ali com o passar dos anos.

Assistir um filme de Wes Anderson é ter rapidamente em mente o rosto de James Schwartzmann, que também é um frequente colaborador como roteirista e produtor desde que se encontraram na produção do longa Rushmore, Tilda Swinton, do já citado Owen Wilson, as mil formas de manifestar cansaço de Bill Murray, Tony Revolori, Willem Dafoe, Anjelica Huston…Seu Jorge.

 A lista é grande, internacionalmente vasta e ainda assim conseguiu chegar na América do Sul, escalando para seus trabalhos um dos nossos maiores artistas de todos os tempos. Talvez a presença de Seu Jorge e o reconhecimento de sua qualidade seja o detalhe extra que aproxima ainda mais o diretor do coração do público brasileiro. Pode ser que seu estilo narrativo, que sempre leva a pensar em um livro que acaba de ser aberto com a frase era uma vez, aproxime sua excentricidade do imaginário popular do seu público, criando uma relação de carinho e afeto.

Wes Anderson e Seu Jorge – Site: Uol

O que se pode ter certeza é que antes de Wes Anderson vir a ser o Wes Anderson atual, o diretor conseguiu já se fazer uma figura notável muito antes dos imprescindíveis enquadramentos e visuais de livro infantil. Já havia um elemento que destacava sua forma de pensar cinema: o senso de humor irônico e acelerado. Essa característica fez seu primeiro filme longa metragem, Bottle Rocket (1996), estrelado pelos irmãos Wilson (Owen, Andrew e Luke) ser notado por Martin Scorsese, um dos maiores cineastas da história,  que o colocou no top 10 filmes da década.

O mesmo tom específico de senso de humor pode ser encontrado já no longa seguinte, Rushmore (1998), mas as coisas tomam rumo mesmo na virada para o século XXI. No ano de 2001, Wes Anderson viria a lançar o primeiro filme que consagraria tudo o que pensa de cinema com Os Excêntricos Tenenbaums. A história de uma família problemática de filhos com pais separados passa por uma tentativa de reaproximação do mentiroso e bon-vivant patriarca da família, que tenta voltar a morar na mansão Tenenbaums ao saber que sua ex-esposa estaria interessada em outro parceiro. Aqui podemos destacar três dos principais aspectos do diretor:

  • Visuais excêntricos

Muitas vezes, alguns personagens são extremamente caricatos, correndo risco de engessamento na atuação. Então, o visual torna-se um dos grandes recursos utilizados para expressar personalidade. Roupas muito estilizadas, exprimindo também traços regionais, com acessórios extravagantes e uma paleta de cores sempre vibrante e saturada, que ajuda a marcar uma atmosfera de fantasia.

  • Enquadramento e Simetria

Obcecado pela regra dos terços, Wes Anderson tenta ir ao extremo quanto ao quesito de preencher o espaço de forma correta. Os personagens na maioria ou totalidade das vezes são vistos sempre perfeitamente de frente ou de lado, o que colabora para uma frequente movimentação lateral de câmeras, passando a sensação de constante movimento, como se um livro estivesse sendo folheado.

Filme – Ilha dos Cachorros
  • Estilo Casa-de-Boneca

Os ambientes e cenários com as construções em estilo infantil também contribuem para a criação de uma atmosfera fantástica. Toda a composição dos cenários remetem à estrutura de ambientes de faz de conta. Janela, portas, telhado. Elementos como mesas, cadeiras, quadros, livros e etc. Tudo se costura.

Filme – O Grande Hotel Budapeste

Como um amante de mundos fantásticos, seria impossível para alguém como Anderson se manter fora do universo das animações. E é com esse recurso, utilizando o estilo de stop motion que o cineasta apresenta algumas de suas habilidades e facetas. Com O Fantástico Senhor Raposo (2008) o cineasta mostra capacidade de criar personalidades tão cativantes quanto nos filmes live action, criando conflitos, profundidade e características marcantes para personagens animais. O outro lado que Anderson conseguiu inserir também em formato de animação foi sua parte política, como é possível se observar na história de um futuro distópico e ditatorial do filme Ilha dos Cachorros (2018).

Filme – O Fantástico Senhor Raposo

Por fim, é impossível falar da vida e obra de Wes Anderson sem passar por seu filme mais aclamado, por fãs e pela crítica. O Grande Hotel Budapeste (2014) é considerado como a masterpiece (obra de arte) do diretor e ganhou as premiações de Grand Prix do Júri no Festival de Berlim de 2014, Melhor Roteiro Original dos Prêmios BAFTA em 2015, Globo de Ouro de Melhor Filme em 2014, além de renderem sua maior bilheteria da carreira (174,6 milhões de dólares).

Em comparação com o mencionado Os Excêntricos Tenenbaums, tudo em que lá havia de icônico, também há em O Grande Hotel Budapeste. Cenários marcantes, diálogos e personagens excêntricos, filmagem excepcional. Então, qual é o detalhe que torna esse filme tão aclamado?

A resposta é mais simples do que parece: o mundo. A mente fantástica de Anderson atinge sua expansão máxima nesse longa, criando um universo vasto com vários núcleos bem amarrados como famílias, guerra, prisão, funcionários, sociedades secretas e muito mais. É praticamente como entrar de fininho e espiar como deve ser um sonho na mente do cineasta. Há também alguns aspectos marcantes a serem ressaltados, que compõem a personalidade do diretor:

  • Estilo Narrativo

A forma de contar a trama com um narrador em estilo de livros de faz de conta tornou-se marca registrada do diretor, intercalando os momentos de aparição do locutor, que pode estar interagindo diretamente com o público ou com algum personagem interno do filme, para quem a história está sendo contada. 

Filme – Veneno
  • Plano Detalhe

Tal qual Tarantino e outros tantos filmes de Western, Anderson gosta de dar destaque a todas as mini expressões de seus excêntricos personagens com um zoom extremo em seus rostos.

  • Divisão em Atos

Além da figura do narrador frequente como nos livros, o cineasta também adapta muitos elementos do teatro. Em várias obras são inseridos elementos visuais que indicam em qual ato da história estamos. Por vezes, a depender da estética adotada, até mesmo a mudança de cenário em tempo real é inserida no filme, como em uma peça.

Filme – Crônica Francesa
  • Falas e Movimentações

A movimentação enérgica, acelerada e constante de alguns personagens marcantes é marca registrada do diretor, também como momentos com falas absurdamente longas e sem cortes, passando a sensação de aceleração, ansiedade e sufoco em determinados momentos para dar ritmo à trama. Relatos dos atores que trabalham com o diretor em vários de seus filmes contam que Wes Anderson percebe meticulosamente até quando pequenos artigos como “a” e “o” ficam ausentes nas falas extremamente longas e que são muito cobrados pela perfeição.

Filme – O Grande Hotel Budapeste

Senhor da Simetria, Rei do enquadramento ou como queira apelidar. Os fantásticos mundos das excêntricas aventuras de Wes Anderson impactaram e ainda impactam a visão do cinema do século XXI. Definitivamente seu estilo é um marco. Para os que amam seu estilo, é um marco de obras antológicas que conseguem entregar tudo o que se deseja, sendo amor, ódio, ternura, solidão ou liberdade. Para os que não gostam, é um marco da dita “frescura e dureza” de diretores com ego e ideias muito grandes. Tudo torna-se possível nas fantasias de Wes Anderson.

Conhecia Wes Anderson? Qual seu filme favorito dele? Conte para a equipe do Pipoca no Ar pelo Instagram: @bandejaoradio 

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