Ranking por ordem de favoritismo dos filmes do diretor recém vencedor do Oscar 2024.
Por Renam Linhares
Dia 1 de maio é comemorado o Dia do Trabalho. Uma das melhores coisas a se fazer em um feriado é maratonar filmes. Mas, o primeiro dia do mês de maio é marcado por ser o aniversário do excêntrico cineasta Wes Anderson.
Então, por que não unir o útil ao agradável e assistir essas grandes obras que já se tornaram clássicas do cinema contemporâneo? Para facilitar, aqui está uma lista, por ordem pessoal de favoritismo, dos filmes do diretor*:
*Nota: O Filme “Bottle Rocket” (1996), primeiro filme longa metragem de Wes Anderson, não foi incluído na lista, pois até a publicação deste texto o filme não está disponível em nenhum streaming no Brasil.
15º – Rushmore (1998) (⭐⭐½)
Nome em português: Três é demais.
O filme conta a história de um aluno de 15 anos apaixonado por todas as atividades de sua escola que tenta prolongar ao máximo sua vivência no local. A única coisa que estremece sua paixão é uma paixão ainda maior pela nova professora da escola. O problema, é que um amigo que deveria o ajudar com a missão de encantar a amada também começa a nutrir sentimentos pela professora.
Segundo filme da carreira do diretor. Dado o que se tornou posteriormente, esse longa parece um teste do que Anderson viria a se tornar. A avaliação é a mais baixa, pois o filme encontra dificuldades em estabelecer um ritmo para história e ambientação, o que dificulta o espectador de imergir no clima da obra.
A montagem também é um pouco questionável. Há quebra na velocidade dos acontecimentos várias vezes. Algumas cenas são curtas demais, outras muito longas. Ao final, o filme passa a impressão de que poderia ter sido encerrado umas 3 vezes antes do verdadeiro fim.
Disponível no Star+.
14º- O Caçador de Ratos (2023) (⭐⭐⭐)
O curta apresenta o caso de um pequeno vilarejo que começa a sofrer uma infestação de ratos, então, o melhor caçador de ratos é chamado para resolver a situação. Porém, a personalidade do mesmo parece tanto com a de suas presas que a situação tende a se complicar.
A história é interessante e o personagem é muito atrativo para quem assiste, mas faltaram elementos ou uma narrativa que chamassem mais atenção. O formato teatral é muito bom. Porém, há a sensação de que gastaram maior atenção nas cenas de stop motion do que na obra como um todo.
Disponível na Netflix.
13º – A Vida Aquática de Steve Zissou (2004) (⭐⭐⭐)
A história de um grande navegante e cineasta em baixa que tenta produzir uma grande obra, mas acaba perdendo um amigo devorado por um tubarão leopardo. Em busca de vingança, Steve Zissou parte novamente atrás do animal, enquanto descobre a existência de um filho que embarca também na aventura.
Esse filme fica entre extremos do diretor. Entre um bom equilíbrio, como o de Os Excêntricos Tenenbaums (2001) e a falta de ligação de Três É Demais (Rushmore – 1998).
Vale destacar aqui também que o diretor tem dificuldade em lidar com personagens femininas e com determinados estereótipos, como, por exemplo, o personagem brasileiro se chamar Pelé. Apesar de tudo, o longa é uma boa sátira, já era é um filme sobre fazer um filme.
Disponível no Star+.
12º- Crônica Francesa (2021) (⭐⭐⭐)
O falecimento do dono de um jornal faz com que muitas histórias sejam contadas pelos funcionários, como desejo final de seu testamento.
O protagonista nesse caso não é aquele que mais aparece, mas sim aquele que faz a ligação das três histórias bem distintas.
As técnicas utilizadas no filme estão excelentes, os congelamentos de imagem em movimento, animações, planos sequência, impecáveis. Mas, senti que a estética fez as atuações individuais perderem um pouco o brilho, como se precisassem se engessar para caber mais perfeitamente no padrão desejado desse longa.
No quesito contar histórias, o filme ficou acelerado demais, em alguns momentos é impossível não se perder um pouco.
Apesar disso, é executado de um jeito que nossa atenção é presa apesar da confusão em determinados momentos. E, se as atuações foram mais engessadas que o normal, a construção de camadas dos personagens nunca foi tão rica e completa.
Disponível no Star+.
11º- Asteroid City (2023) (⭐⭐⭐)
Uma competição valendo uma bolsa científica para jovens prodígios está para acontecer em Asteroid City, até que um evento curioso relacionado ao meteorito central da cidade ocorre.
Cenários lindos e estrutura de teatro, com uma interlocução frequente dos personagens conversando com o autor da peça. A metalinguagem foi interessante em alguns momentos, mas tornou tudo muito confuso em vários momentos. Os tons de cores e caracterizações lembram produtos antigos, o que ambienta bem com o período histórico do filme.
A estética excessiva acabou custando um preço. As atuações ficaram um pouco sem personalidade. Quase todos os personagens são inexpressivos e agem exatamente iguais. Além de, novamente, existir categorias caricatas repetidas como paixões entre personagens após três frases, personagem feminina cuja denominação é apenas aparecer nua e ser sexy, personagens promissores pouco explorados.
Disponível no Prime Video.
10º- Hotel Chevalier (2007) (⭐⭐⭐½)
O curta é uma história prévia do caso amoroso de um dos irmãos que protagonizam o filme Viagem A Darjeeling (2007).
É uma boa base para explicar um pouco mais das questões sobre o irmão que menos foi exposto no longa seguinte. A relação complicada com sua companheira em pouco mais de dez minutos foi bem estabelecida e explica bem a carga raivosa e intensa do personagem principal.
Disponível no YouTube.
9º- Ilha dos Cachorros (2018) (⭐⭐⭐⭐)
Uma ditadura foi estabelecida no Japão e o plano de governo é a eliminação e extermínio de todos os cachorros, que são banidos para uma ilha no lixão. O primeiro cachorro banido, pertencia ao jovem Atari, que embarca em uma missão solitária de resgate, até encontrar com cães sobreviventes na ilha que o ajudarão na sua jornada.
Como entretenimento e envolvimento com o público esse filme é um espetáculo. Muito político, o stop motion impecável, a personalidade dos protagonistas bem definida e muito mais. Nos quesitos entretenimento e envolvimento com o público esse filme com certeza tira nota máxima. Com um belo trabalho de stop motion e personagens com personalidades bem definidas, o filme mostra uma crítica política forte e estruturada.
Porém, algumas questões problemáticas acabam atrapalhando o desenvolvimento da trama.Os amantes de gatos são os antagonistas (fascistas e corruptos), mas os animais gatos em si não ganham nenhum momento na trama.
Mas, talvez o principal problema seja que a introdução do filme aborda os cachorros como uma civilização inteligente que antes rivalizava com os humanos, mas foram vencidos e postos em papel de servidão. Sim, muitas analogias com a vida real são possíveis.
Chief é um cão vira lata. Seja por opção ou por acasos sociais, ele encarna o papel de luta contra servidão e obediência aos humanos. Porém, basta o contato minimamente bom com um ser humano que toda a luta de classes é ignorada. Ele não tenta estabelecer uma relação de respeito e igualdade com Atari. Ele aos poucos aceita se submeter e tenta se encaixar no sistema. Recado muito ruim.
Disponível no Star+.
8º- Viagem A Darjeeling (2007) (⭐⭐⭐⭐)
Três irmãos saem em uma viagem na tentativa de se aproximarem e realizarem uma jornada espiritual. A última vez que haviam se encontrado fazia um ano, no enterro do pai. No caminho revivem conflitos internos e externos que devem ser resolvidos.
Temos aqui talvez o mais sentimental dos filmes do diretor. Sentimentos de luto de três irmãos que se afastaram. Além disso, encontram dificuldades em seguir suas vidas individualmente após a morte de seu pai. Outro ponto: a relação com sua mãe não é muito bem resolvida, pois a mesma também se encontra em um tipo de crise interior.
Vemos um retrato de vários tipos de automutilação que os personagens se submetem. Fuga paternal, cleptomania, auto flagelação, vício em sexo, entorpecentes e muito peso sentimental.
A forma como os personagens se aproximam-enquanto vão se reconciliando entrega um dos melhores tons fraternais que o cinema pode proporcionar. É interessante como a piada sobre não conseguirem fazer uma jornada espiritual muda à medida em que os acontecimentos do trajeto a tornem uma. Um ponto negativo foi em relação ao timing das mudanças de rota e objetivos, poderia ser melhor executado. Ainda assim, é um dos melhores filmes de Anderson pela forma como equilibra o vazio interior com a superlotação visual e física da Índia. Nos momentos inversos também, quando em cenários abertos e quase isolados parecem super ocupados pela presença dos três protagonistas que cresceram ao longo do filme.
Disponível. no Star+
7º- O Cisne (2023) (⭐⭐⭐⭐½)
A curta e trágica história de um garoto que sentia-se feliz observando pássaros e de seus dois perseguidores que se divertiam com sua dor. Esse curta teve uma proposta clara e a executou bem até o fim. Essa sequência de curtas com Cisne (2023), Veneno (2023) e O Caçador de Ratos (2023) parecem testes de formato do diretor para algo maior (que talvez viria a ser o premiado Incrível História de Henry Sugar [2023] que venceu o Oscar 2024 na categoria Melhor Curta-Metragem).
Mais que um narrador, esse filme foi contado a partir de um intérprete que referenciava um mini núcleo com apenas alguns elementos ao seu redor, atuando a maioria dos papéis, sem ser exatamente um monólogo enquanto os cenários eram construídos ao seu redor, no esquema de peça de teatro. Isso pode abrir possibilidades na mente de criadores de filmes independentes com poucos recursos.
Disponível na Netflix.
6º- Veneno (2023) (⭐⭐⭐⭐½)
Woods vai visitar seu amigo Harry e o encontra imóvel em silêncio na cama, suando e com olhos arregalados. Harry, com muita cautela informa que por baixo de suas cobertas há uma cobra venenosa dormindo sobre sua barriga. Woods chama um médico para resolverem a situação.
São 10 minutos de uma história de suspense e tensão muito imersiva precisando de pouquíssimos recursos visuais para convencer. Facilmente seria uma peça de teatro se houvesse movimento de câmeras em um. As atuações estão ao ponto ideal. Não atinge nota máxima, pois, até mesmo em um curta seria possível preencher algumas lacunas e explicar melhor o desfecho que ficou um tanto vazio.
Disponível na Netflix
5º- Moonrise Kingdom (2012) (⭐⭐⭐⭐½)
Dois adolescentes vistos como crianças problemáticas estão insatisfeitos com suas vidas, então armam um plano para fugir juntos e serem livres para viver seu amor.
Pode não ter o brilho das aventuras fantásticas e mágicas, ou os personagens mais excêntricos do diretor. O especial nessa obra é outro fator, que às vezes falta em outros filmes de Anderson. Trata-se da profundidade sentimental.
O mundo não precisa ser fantasioso. Basta recordar como eram as primeiras paixões e como o mundo ao redor parecia ser distorcer, fazendo tudo parecer possível. Quantas vezes quando mais novos, ou até mesmo hoje, existem sentimentos de que não há encaixe em determinado espaço e só resta a vontade de fazer as malas e sair sem destino? É dessa forma que os personagens e o enredo de Moonrise Kingdom, ainda que com poucos diálogos diretos, aprofundam a visão de mundo de cada personagem.
Disponível no Star+.
4º- A Incrível História de Henry Sugar (2023) (⭐⭐⭐⭐½)
A história de um homem viciado em apostas que descobre um livro que contém a habilidade que o permite enxergar de olhos fechados. Após testar vários modelos novos, na sequência de curtas lançados em 2023, neste o equilíbrio foi encontrado. Ritmo, história bem contada, cenários necessários e bem feitos, participação de personagens secundários ao ponto exato e uma forma nova de contar a história.
Talvez falte uma trilha sonora mais marcante ou um grande momento, mas, ao que se propôs, esse curta metragem é excelente.
Disponível na Netflix.
3º- O Fantástico Senhor Raposo (2009) (⭐⭐⭐⭐½)
Uma raposa macho desiste da vida de caça ao quase ser capturado com sua esposa e descobrir que ela estava grávida. Mas, anos depois, insatisfeito com sua realidade pouco selvagem, arma um plano para voltar a fazer roubos em segredo e acaba atraindo grande perigo.
Personagens cativantes, cenários muito interessantes e mini conflitos internos que fazem a atenção ficar presa para além da trama geral e egóica do Sr. Raposo.No geral, é uma história divertida sobre um personagem em evolução e em crise da meia idade, que está preso entre aceitar sua nova versão e amadurecer para como pai, marido e cidadão ou se reencontrar com seu eu nostálgico, jovem e imprudente do passado, enquanto coloca a culpa em sua “natureza de animal selvagem”.
De um jeito bem humorado e com o ritmo certo, conseguimos ver o crescimento dos personagens. Acho, porém, que as personagens femininas foram muito desperdiçadas. As personalidades ficaram limitadas a pequenas frases. A Sra. Raposa foi reduzida a esposa e Agnes virou apenas a amiga de Ash e namorada de Kristofferson. Um pouco disso foi corrigido quando a Sra. Raposa tomou uma função para si na hora do “plano final”. Isto posto, sem me alongar muito mais, é uma boa obra.
Disponível no Star+.
2º- O Grande Hotel Budapeste (2014) (⭐⭐⭐⭐⭐)
Um escritor se hospeda no Hotel Budapeste, que outrora fora um dos maiores do ramo. Lá encontra o dono do estabelecimento, que resolve contar toda a fantástica jornada que o levou a se transformar em proprietário.
É justificável que os fãs do diretor tenham esse como favorito. Para além de elogiar a construção dos personagens excêntricos e enérgicos, outra coisa merece destaque: A construção do mundo.
Em O Grande Hotel Budapeste, Wes Anderson tem que trabalhar com um espaço físico maior do que apenas uma casa, ou apenas uma rua. Aqui ele deve desenvolver viagens por regiões diferentes e personagens que carregam essas características dos lugares de onde vêm. O passeio que o longa nos leva a fazer faz com que não queiramos que a aventura termine, para que seja possível explorar cada vez mais aquele universo.
Talvez por isso também eu sinta que a história não foi tão bem contada como em outras obras. Algumas informações e acontecimentos ficam um pouco confusos e perdidos no decorrer da obra. Mas, ainda sim, é possível entender e aproveitar essa história incrível.
Disponível no Star+.
1º- Os Excêntricos Tenenbaums (2001) (⭐⭐⭐⭐⭐)
Uma família desajustada volta a se reunir com as crianças agora adultas. Porém, o patriarca excêntrico e problemático tenta se reaproximar ao descobrir que sua ex-esposa tem um novo interesse amoroso. Ele então revela aos filhos que está com uma doença terminal, para que estes o aceitem de volta na mansão. Porém, as personalidades excêntricas e duvidosas tendem a gerar situações absurdas.
Um dos maiores e melhores filmes sem pé nem cabeça de todos os tempos. Sensacional a capacidade de Wes Anderson criar personalidades caóticas mas que interagem bem entre si, além de criar justificativa para as peculiaridades de cada um.
No fim, não precisava ser uma história de redenção, ou uma super aventura, ou sequer passar uma mensagem importante. É apenas para ser mais um capítulo da sensacional e louca história de uma família que só podia ter saído de um desses filmes. Cenários, grandes momentos, figurinos e diálogos marcantes. Tudo que um bom filme necessita.
Disponível no Star+.
Um diretor com vários universos incríveis e personagens cativantes que já entrou na história do cinema. Após maratonar todos os filmes, a minha visão sobre as possibilidades do cinema foram ampliadas. Evidentemente, o ranking dos filmes, além de analisar a qualidade e questões técnicas, leva em conta meus gostos pessoais para definir o favoritismo por um ou outro. É totalmente cabível que haja discordâncias de pessoa para pessoa.
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Muito bom!!