Divertida Mente: Uma Jornada Emocionante e Reflexiva pela Mente Humana

Por Deivid D’Paula

Antes de sonhar com uma sequência, “Divertida Mente”, a aclamada obra-prima da Pixar lançada em 2015, conquistou o público com sua narrativa divertida e comovente, oferecendo uma jornada inesquecível pelas emoções humanas. Embora pareça uma simples animação infantil, o filme, dirigido por Pete Docter e co-escrito por Meg LeFauve, Josh Cooley e Docter, destaca-se por sua habilidade em abordar temas complexos de maneira leve e acessível. Esse aprofundamento é possível graças à aplicação de técnicas psicológicas na produção e à consultoria com especialistas em comportamento humano, o que enriquece a compreensão da importância dos sentimentos.

A história do primeiro filme se desenrola na mente de Riley, uma garotinha de 11 anos que enfrenta uma grande reconfiguração em sua vida: a mudança de sua cidade natal para San Francisco. Essa mudança externa desencadeia uma série de transformações internas, levando Riley a questionar tudo o que ela conhece e a lidar com diversas emoções intensas até então não experienciadas.Esse contexto permite ao filme explorar de forma profunda e sensível a complexidade das emoções humanas e o impacto das mudanças na vida de uma criança.

Ao longo da trama, acompanhamos a jornada de Alegria e Tristeza enquanto navegam pelas diversas ilhas da mente de Riley, como a Ilha da Memória, a Ilha da Imaginação e a Ilha dos Sonhos. As emoções enfrentam inúmeros desafios e obstáculos enquanto tentam retornar à sala de controle, o centro onde governam as ações e pensamentos de Riley.

O enredo do longa-metragem, apesar de divertido e carismático, é apenas a camada mais superficial desta obra cinematográfica. A produção encontrou maneiras criativas de abordar temas complexos e abstratos, como sentimentos, emoções e desejos, de forma didática e clara. Desde seu lançamento, o clássico tem sido amplamente discutido, e seu grande triunfo é ilustrar que, nas profundezas de nossa mente, estão os elementos que nos permitem sentir apreço, empatia, raiva e tristeza. Em outras palavras, o filme explicita o que nos torna humanos.

À psicologia por trás das cinco emoções

Como mencionado anteriormente, desde seu lançamento em 2015, “Divertida Mente” encantou o público com sua narrativa original e personagens cativantes. No entanto, você sabia que, por trás dessa animação, há uma base científica sólida? Além de contar com um time robusto de estudiosos do comportamento humano, como a educadora e escritora Lorraine Thomas, o longa também teve a consultoria de Paul Ekman, um dos psicólogos mais renomados do mundo.

Pioneiro no estudo das emoções e expressões faciais, Ekman dedicou mais de 50 anos à pesquisa. Sua principal contribuição foi a descoberta das microexpressões, expressões faciais breves e involuntárias que revelam nossas emoções verdadeiras, mesmo quando tentamos escondê-las. Através dessa pesquisa meticulosa, ele identificou cinco emoções básicas: raiva, tristeza, desgosto, medo e alegria. Essas mesmas emoções são personificadas pelos personagens de “Divertida Mente”, guiando as ações e pensamentos da protagonista Riley.

Essa perspectiva permite uma reflexão profunda sobre o desenvolvimento emocional e os desafios enfrentados durante a transição da infância para a adolescência, conforme apresentados na história.

Alexandra Meneghelli Martins, educadora infantil e parental, escritora, psicanalista, analista comportamental e especialista em gestão de pessoas, aborda os desafios e as oportunidades que essa fase apresenta para o desenvolvimento emocional do indivíduo. Segundo Martins, as emoções começam a se desenvolver quando vivenciadas, usando como exemplo a personagem Riley, que experimenta alegria, tristeza, culpa e medo ao lidar com um período de adaptação difícil.

Martins destaca a confusão e o medo associados ao não saber como se comportar nessa fase de transição. “Como agir nessa situação se não sei se sou criança ou adolescente? É um embate interno que traz medo e confusão. As responsabilidades aumentam, alterando a rotina”, comenta. “Sem contar as alterações hormonais que mudam o corpo da criança e do adolescente. Lidar com a nova imagem e com as transformações que ocorrem repentinamente é muito desafiador”.

Lições valiosas sobre a importância e o papel das emoções

Que o longa-metragem é um excelente entretenimento, isso todo mundo já sabe, mas você percebeu que a animação também oferece valiosas lições sobre a importância de todas as emoções, mesmo as consideradas “negativas”? A produção demonstra como cada emoção possui um papel fundamental na formação da personalidade e no desenvolvimento individual.

Nesse sentido, para Alexandra Martins, a Alegria representa os momentos felizes e os prazeres da vida. No entanto, o filme nos ensina que a felicidade não pode ser o único estado emocional. A Tristeza, muitas vezes vista como uma emoção ruim, é essencial para lidar com perdas, frustrações e decepções. É através da tristeza que podemos aprender e crescer.

Da mesma forma, a Raiva surge como uma força protetora, impulsionando-nos a defender a nós mesmos e aquilo em que acreditamos. O Medo nos protege de perigos e nos ajuda a tomar decisões conscientes. Já Nojinho, com sua aversão a tudo que é sujo ou perigoso, garante a saúde física e mental de Riley.

Ao abordar as emoções de forma abrangente e respeitosa, a animação contribui para a quebra de tabus e promove a aceitação e o acolhimento de todos os nossos sentimentos. Dessa forma, realizando um convite a uma profunda reflexão sobre a importância de compreender e aceitar nossas emoções. Ela nos ensina que todas as emoções são válidas e que cada uma delas possui um papel fundamental em nossas vidas. Ao aprendermos a lidar com nossas emoções de forma saudável, podemos construir uma vida mais plena e significativa.

De maneira geral, pode-se dizer que outro triunfo da animação é falar de maneira simples e divertida sobre a importância de aceitar e aprender com as mudanças da vida. De acordo com Alexandra, resistir às mudanças pode intensificar o sofrimento, e aceitar diferentes emoções é crucial para enfrentar fases difíceis. “O papel da tristeza e de outras emoções é mostrar que não há emoções ‘ruins’, mas sim como reagimos a elas. Qual a interpretação que damos quando sentimos medo? O medo pode ser um alerta de perigo ou apenas a reação ao desconhecido”, explica.

Para ajudar crianças e adolescentes a lidar com as mudanças de forma saudável, Alexandra sugere acolher e validar suas emoções sem julgamento e com empatia. “Conversar, orientar e, sobretudo, olhar para o coração das nossas crianças e adolescentes com compaixão”.

Ela enfatiza a importância de compreender que cada criança e adolescente tem uma história de vida única, influenciada pelo apoio familiar ou falta dele, o que impacta como cada um lida com as dificuldades da vida. Por isso, é essencial considerar a subjetividade de cada indivíduo.

Uma obra de arte memorável

Como se não bastasse tudo o que foi dito e refletido com os elementos narrativos, também é essencial exaltar as excelentes e impecáveis qualidades técnicas do filme vencedor de dois Oscars, sendo melhor roteiro original e melhor animação. Sua execução é vibrante e colorida, com designs criativos e detalhados que dão vida às emoções de forma única e memorável.

Este é um filme imperdível para quem procura uma experiência cinematográfica divertida, emocionante e reflexiva. Como é típico das produções da Pixar, a animação oferece narrativas envolventes e divertidas que transmitem mensagens e lições importantes sobre a vida, acessíveis a públicos de todas as idades. Ele nos faz rir, chorar e, acima de tudo, aprender sobre a importância das nossas emoções. Com sua mensagem inspiradora e personagens cativantes, “Divertida Mente” é um filme imperdível para pessoas de todas as idades. As crianças se divertem com a aventura emocionante e aprendem sobre a importância das emoções, enquanto os adultos se identificam com as situações vividas por Riley e refletem sobre suas próprias emoções.

Além disso, compreender a ciência por trás de “Divertida Mente” nos permite apreciar ainda mais a riqueza e profundidade do filme. A jornada apresentada nos mostra a importância de reconhecer e gerenciar nossas emoções, promovendo relações mais saudáveis e autênticas.

Com tudo isso em mente, é difícil não ficar ansioso para ver quais abordagens e complexidades serão exploradas no segundo filme de um dos maiores clássicos das animações.