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Divertida Mente 2: Quem eu sou e o que me define?

Por Deivid D’Paula

É indiscutível que a primeira animação de “Divertida Mente” foi um sucesso global, graças à sua capacidade de se conectar profundamente com o público ao abordar os dilemas da infância e as complexas relações intersociais durante a fase inicial da vida, mesclando personagens carismáticos em uma história divertida e emocionante. Agora, “Divertida Mente 2” chega aos cinemas com a difícil missão de repetir o sucesso do primeiro filme. No entanto, essa tarefa parece menos árdua, já que a sequência demonstra a mesma força do original, em termos de diversão, emoção e reflexão. Desta vez, “Divertida Mente 2” continua o legado de explorar o desenvolvimento humano baseado em emoções, mas foca na nova fase da vida de Riley: a adolescência.

Nesta nova etapa, o filme introduz uma gama mais complexa e ambígua de emoções, centrando-se particularmente na Ansiedade, que ganha a dublagem eletrizante de Tata Werneck. Junto com a Ansiedade, surgem sentimentos como a Inveja, a Vergonha e o Tédio, que precisam encontrar seu lugar ao lado das emoções já conhecidas por nós (Alegria, Nojinho, Medo, Raiva e Tristeza), que habitam a sala de controle da mente de Riley.

Divulgação/Disney

Sobre o Filme

Quase 10 anos após a estreia de “Divertida Mente”, a continuação da história de Riley Andersen e suas emoções finalmente chegou aos cinemas brasileiros no dia 20 de junho. A versão brasileira conta com um elenco de dublagem de peso: Miá Mello como Alegria, Leo Jaime como Raiva, Katiuscia Canoro como Tristeza, Dani Calabresa como Nojo, Otaviano Costa como Medo, Tata Werneck como Ansiedade, Eli Ferreira como Tédio, Gaby Milani como Inveja e Fernando Mendonça como Vergonha.

Diferente do primeiro filme, que foi dirigido por Peter Docter, conhecido por sucessos como “Toy Story”, “Vida de Inseto”, “Os Incríveis”, “Up: Altas Aventuras” e “Monstros S.A.”, a nova animação de 2024 tem Kelsey Mann (“Party Central” de 2013 e “O Bom Dinossauro” de 2015) como diretor.

O desenvolvimento desta sequência levou quase cinco anos e, assim como no primeiro filme, contou com a consultoria de um grupo de psicólogos, além da colaboração de diversos animadores e ilustradores profissionais. Entre os colaboradores, destaca-se a ilustradora brasileira Bruna Bedford, do Rio de Janeiro.

Em entrevista ao programa Fantástico, ela comentou sobre o processo de ilustração e a importância do tempo para a qualidade do trabalho: “Às vezes você passa um mês e meio trabalhando em quinze segundos de animação. Isso é essencial para criar cenas visualmente deslumbrantes”, explicou.

Absolutamente tudo que você vê em cena tem um propósito, desde os movimentos dos personagens até a maneira como eles andam”, concluiu.

Divulgação/Disney

Personagens mais complexos e maduros

Um aspecto interessante do longa-metragem é a maneira como ele aborda a complexa dicotomia entre o bem e o mal, deixando claro que ninguém é inteiramente uma coisa ou outra. A animação realiza essa reflexão de forma clara e didática, mostrando através das emoções de Riley que até mesmo a Alegria pode ter crises de raiva, e que a Raiva pode ser compreensiva.

Por outro lado, na vida real, a ansiedade é frequentemente vista como uma vilã, mas na animação ela desempenha um papel antagônico. Isso porque, assim como os demais personagens na mente de Riley, a Ansiedade também deseja o bem-estar da garota, embora tenha uma perspectiva diferente de como guiá-la para um futuro melhor, o que entra em conflito com as ideias de Alegria.

Divulgação/Disney

O elemento propulsor dessa nova animação é justamente o embate entre Alegria e Ansiedade sobre como a vida de Riley deve ser construída e conduzida. Se o primeiro filme entregou uma história emocionante, repleta de humor, aventura e reflexões complexas sobre o comportamento humano, a importância de todas as emoções e como elas moldam nossa personalidade, o segundo filme expande essas ideias e explora conceitos mais profundos da mente humana. Temas como a busca por pertencimento, o amadurecimento, as inseguranças típicas da adolescência são apresentados e desenvolvidos, além de a questão fundamental do filme ser recorrente na mente tanto de Riley quanto na do telespectador: quem sou e o que me define?

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Quem somos?

Assim como em 2015, o filme de 2024 não pretende ensinar algo sobre a vida, mas sim convidar o público a imergir no complexo funcionamento da mente humana. Se no primeiro filme a protagonista Alegria descobriu a importância de compreender e respeitar as demais emoções, agora ela nos conduz por uma jornada de autocompreensão, baseada na ideia de que nosso ser é definido pela complexa relação entre nossas experiências de vida e as memórias geradas por elas.

De forma resumida, nossas experiências criam memórias que formam as bases de nossa personalidade e, posteriormente, nossas convicções — as certezas de quem somos e do que queremos ser. Esse novo conceito enriquece ainda mais a história e a profundidade dos personagens.

Divulgação/Disney

O que realmente nos define?

A mente humana é um universo em si, um pequeno infinito. A Pixar, com sua habilidade ímpar, parece tornar fácil a produção de animações que têm o verdadeiro potencial de transformar nossa forma de pensar e refletir sobre temas universais. Isso foi evidente em filmes como “Wall-E”, “UP: Altas Aventuras”, “Viva: A Vida é uma Festa”, “Toy Story” e o primeiro “Divertida Mente”. No segundo filme, a Pixar continua a encantar e divertir, promovendo infinitos debates acerca de nossas crenças e do que nos torna humanos.

O filme é uma continuação exemplar, grata, delicada e sensível, que mantém seu caráter de empolgar, contar histórias, entreter e emocionar crianças e adultos. A narrativa flui de forma natural e não soa forçada ou desnecessária, algo raro no mundo das sequências cinematográficas. O filme amadurece em relação ao primeiro, sendo igualmente emocionante, naturalmente evoluído e criativo. Segundo o Imaginago, “A sensação é de que o primeiro filme foi criado para que no fim a Pixar pudesse chegar até aqui, onde ela queria falar.”

No desfecho, o filme desconstrói propositalmente uma ideia que ele mesmo criou para o fluxo da narrativa: o que uma pessoa pensa sobre si mesma não define seu caráter e sua personalidade. O que realmente define alguém não são suas certezas ou convicções, por mais importantes que sejam, mas sim como ela reflete seus sentimentos e emoções na sociedade. Suas convicções são menos relevantes do que a forma como modula suas emoções e sentimentos socialmente.

Como bem disse a jornalista Luiza Vilela da Revista Exame: “Os danados conseguiram de novo!”

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Balanço geral da crítica sobre “Divertida Mente 2”

“Divertida Mente 2” conquistou o recorde de maior abertura nas bilheterias globais e domésticas em 2024, superando filmes como “Duna”. Além disso, recebeu grande aprovação do público, com 89% no Rotten Tomatoes, nota 75 no Metacritic, e 8/10 estrelas no IMDb, baseadas em 30 mil avaliações.

A crítica também foi unânime em aclamar o filme. O Imaginago destaca que “Divertida Mente 2 é TUDO o que uma continuação deve ser”, sublinhando a capacidade do filme de expandir e aprofundar a história original sem perder sua essência.

O Canal Tech descreve o filme como “o mais gentil e doloroso da Disney”, enquanto o Tangerina afirma que “Divertida Mente precisa durar por anos”, sugerindo seu potencial atemporal. O Cinepop vai além, considerando-o “o melhor filme da Pixar em quase uma década”. Por fim, o Metrópole elogia a conclusão, afirmando que “Divertida Mente completa a saga mais inteligente da Pixar”.

Com essas críticas positivas, “Divertida Mente 2” se estabelece como uma digna sucessora do primeiro filme e uma obra-prima por si só, capaz de tocar o coração de crianças e adultos enquanto explora as complexidades da experiência humana.

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