Por Brenno Guterres
Estamos a poucos dias do lançamento de um lead single pertencente ao mais novo projeto de Lady Gaga, o LG7 (como os mais íntimos conhecem), ou seja, o sétimo álbum de estúdio da cantora e que é uma das obras mais esperadas do ano de 2025. Mas agora chega de falar do futuro… Enquanto esse dia não chega, vamos aproveitar o que já temos e relembrar um dos clássicos de sua carreira?
Lançado em 18 de novembro de 2009, The Fame Monster é um EP que foi divulgado como a “continuação”/reedição do álbum de estreia da artista Lady Gaga, “The Fame”. Tanto “The Fame” quanto “The Fame Monster” foram obras aclamadas pela crítica e pelo público, e serviram de foguete para a ascensão e consolidação da artista como uma das maiores Pop Stars da geração, mesmo sendo nova na indústria.
“The Fame Monster” reúne canções que carregam em suas composições as dores sofridas por Gaga, que faz com que cada música seja um “monstro” que tipifica um medo e/ou insegurança sua. De acordo com a própria cantora, o disco lida com o lado mais obscuro da fama, incluindo o amor, sexo, álcool e mais.
Tendo isso em mente, podemos listar as músicas do EP e seus respectivos monstros da seguinte forma:
- Bad Romance – Monstro do Amor
- Alejandro – Monstro dos Homens
- Monster – Monstro do Sexo
- Speechless – Monstro da Morte
- Dance in the Dark – Monstro da Vergonha
- Telephone (feat. Beyoncé) – Monstro da Asfixia
- So Happy I Could Die – Monstro do Vício (álcool)
- Teeth – Monstro da Verdade
Dessa forma, vamos relembrar brevemente as músicas e o que cada uma significa dentro do EP!
Bad Romance – O Monstro do Amor

Uma das músicas mais conhecidas da cantora, Bad Romance é o Monstro do Amor, tipificado por sua paixão obsessiva e doentia. Nesta música, Gaga, ao invés de querer o lado idealizado e “perfeito do amor” – o que é abordado a maior parte do tempo no gênero musical pop- demonstra querer a parte horrível dele que ninguém deseja, tendo sua obsessão como suficiente para superar todos esses “obstáculos”, sendo possível ver nos seguintes trechos:
“Euqueroasuafeiura,euqueroasuadoença/Euquerooseutudo,contantoquesejade graça”
“Euquerooseuhorror/Euqueroasuapsicose”
Alejandro – O Monstro dos Homens (Medo de homens)

“Euseiquesomosjovens
Eeuseiquetalvezvocêmeame
Maseunãopossomaiscontinuarcomvocêdessejeito”
Sendo aberta com um dramático violino extraído diretamente da principal melodia da peça húngara “Csárdás” do compositor italiano Vittorio Monti, que contribui gloriosamente para a teatralidade da música, Alejandro retrata a vontade de Gaga em ser uma “maneater”, ou seja, pautar seus relacionamentos na efemeridade, evitando quaisquer laços, uma vez que de acordo com a própria letra, “Não quero beijar/ Não quero tocar/ Apenas fumar meu cigarro e sossegar”.
Porém, ao mesmo tempo que Gaga não quer o compromisso, ela demonstra amar e querer a parte sensual de seus parceiros, Alejandro, Roberto e Fernando: “Você sabe que eu te amo, garoto / Quente como o México, desfrute”. Dessa forma, em “Alejandro”, Gaga demonstra uma dualidade estranhamente contraditória entre o seu desejo ardente por homens e ao mesmo tempo, o seu medo de se vincular e prender a um, o que pode atribuir a música não somente o medo de homens, mas também o medo do compromisso.
Monster – O Monstro do Sexo
Em “Monster”, Lady Gaga vive um eterno “guilty pleasure”, ou seja, um desejo que a corrói por ser culposo já que ele é totalmente danoso a ela. Na mesma medida em que a cantora tem a consciência de que não pode se render a este desejo, ela não consegue deixar de querer ir atrás desse monstro.
“Ele comeu meu coração/ Aquele garoto é um monstro/ (Eu poderia amá-lo?)”
Aqui, a expressão “ele comeu meu coração” é utilizada de forma figurativa para representar um ‘relacionamento’ o qual este garoto consome Gaga em todos os aspectos possíveis, drenando-a emocionalmente até não sobrar nada dela (ou seja, nada do seu coração).
“Agora,eleéummonstronaminhacama/Eusóquerodançar,masaoinvésdisso,eleme levou pra casa / Oh não! Tinha um monstro na minha cama”
“Nosbeijamosdelínguanovagãodeummetrô/Elerasgouminhasroupasalimesmo/Ele comeu meu coração e depois comeu meu cérebro”
Finalmente, Gaga relata se submeter à sua carne e ignorar o fato de que este homem pode lhe fazer mal, se rendendo ao “Monstro do Sexo” e o permitindo que explore o seu corpo. “Monster” é um lamento de uma mulher que se vê inerentemente presa a uma pessoa horrível que consegue a dominar em todos os aspectos de sua vida, e justamente por essa complexidade lírica, consegue ser, pessoalmente, a minha música favorita do EP.
Speechless – Monstro da Morte
Aqui, a história fica muito mais que pessoal. “Speechless”, por mais que aparente ser uma balada sobre um coração partido num relacionamento frustrado, foi escrita para o pai de Gaga, que durante a “Monster Ball Tour” teve a saúde gravemente comprometida, em decorrer de 15 anos enfrentando problemas cardíacos. Porém, mesmo com esses problemas, seu pai ainda negava fazer uma cirurgia para tratar. Isso fica evidente nos seguintes trechos, em que Gaga não consegue compreender porque seu pai não quer evitar a morte:
“Nãoconsigoacreditarnoquevocêdissepramim/Ontemànoite,quandoestávamos sozinhos / Você jogou as mãos pro alto / Querido, você desistiu, você desistiu”
“Speechless” é sobre o medo da morte, e especificamente, o medo de Gaga em perder seu pai. Apenas pensar em perder ele e ter a consciência de que pode ser que ela nunca o veja é algo que a deixa sem palavras, uma vez que ela não pode fazer nada para mudar isso, já que esta é uma decisão dele.
“Nuncamaisfalareinovamente/Oh,garoto,vocêmedeixousempalavras/Vocêmedeixou sem palavras, tão sem palavras / E nunca mais vou amar de novo”
Essa é uma música extremamente pessoal, e que se caracteriza pela sua imensa carga emocional, justamente por se tratar de um assunto tão íntimo para a artista. Além disso, também é possível notar essa carga emocional ao analisar essa música comparada ao restante do álbum, visto que ela destoa das demais por ser uma balada lenta focada no piano e no vocal de Gaga, que transmite sua sensação de desespero genuíno, sendo diferente das outras que são mais centradas num pop psicodélico.
Dance In The Dark – O Monstro da Vergonha

Em “Dance In The Dark”, é retratada uma mulher a qual se envergonha de si mesma, e só se sente livre para ser quem realmente é quando as luzes se apagam, pois somente assim ela finalmente se encontra livre do julgamento alheio.
“Essagarotaamadançarnoescuro/Porquequandoeleestáolhando,elasedespedaça”
Ao mesmo tempo que a música aborda esse assunto, ela também critica a atitude dos que a menosprezam, mencionando o nome de diversas personalidades que foram conhecidas pela sua beleza e pelo seu fim trágico, como se as estivesse convocando para jornada de empoderamento, emancipação e libertação contra esses julgamentos.
“Marilyn,Judy,Sylvia/Digamaelescomosesentem,garotas!/Encontresualiberdadena música/Vocênuncavaisedespedaçar/Diana,vocêcontinuaemnossoscorações/Nunca se permita despedaçar/ Juntas, iremos dançar no escuro”
Telephone – O Monstro da Asfixia

Sendo uma das parcerias mais icônicas e desejadas do pop, Lady Gaga e Beyoncé (que inclusive até hoje não nos entregaram a sequência deste hino..) cantam em “Telephone” o desejo de estarem livres de um relacionamento o qual seu parceiro lhes sufoca querendo sua atenção o tempo inteiro.
“Paredeligar,paredeligar,nãoqueromaispensar/Deixeiminhacabeçaemeucoraçãona pista de dança”
“Nãoqueeunãogostedevocê,sóestounumafesta/Eestoufartadomeucelulartocando sem parar”
Também é relevante mencionar um fun fact sobre essa música: originalmente, ela havia sido escrita para o álbum “Circus” de Britney Spears, porém a cantora não quis utilizar a música, então Gaga decidiu não descartar a canção e fazer ajustes para incluir Beyoncé na tão amada faixa.
So Happy I Could Die – Monstro do Vício
Sendo a penúltima canção do EP, “So Happy I Could Die” retrata o medo do vício no álcool e drogas. De acordo com a própria cantora:
“Meu medo do álcool. Meu medo das drogas… medo do vício. […] Mas o álcool é engraçado, porque ele te leva a este lugar muito feliz e acaba com todos os seus problemas e em apenas um minuto você está tão feliz, e então, de repente, [seu] estômago começa a doer… E essa é a minha relação com o consumo e abuso.”
Teeth – Monstro da Verdade
Por fim, chegamos a última música do EP, “Teeth”. Nesta canção, Gaga canta sensualmente sobre querer que seu parceiro lhe dê o seu sexo e que “prove um pedaço da sua carne de
garota má”. Mas acima de tudo, ela pede, repetidamente, que ele lhe mostre seus dentes, ou seja, que ele conte para ela a verdade e que mostre seu eu pessoal.
“Experimente um pouco da minha carne de menina má/ (Experimente um pedaço de mim, garoto)/ Me mostre seus dentes / A verdade é sexy)”
A cantora também explica a música:
“É para significar duas coisas, a primeira, uma conotação sexual meio juvenil, é sobre sexo oral, mas também, o monstro na canção é o medo da verdade. ‘Me mostre seus
dentes’ significa ‘me fale a verdade’, e eu acho que por um bom período da minha vida eu substituí o sexo com a verdade”.
Agora que revisitamos o icônico EP “The Fame Monster” e conhecemos mais sobre as motivações que levaram a cantora a criar ele, nos resta apenas esperar o seu próximo lançamento e torcer para que Lady Gaga prossiga com seu legado no pop, sempre revolucionando, se reinventando e lembrando todos o motivo o qual ela “arrombou” a porta da frente da indústria musical e entrou sem pedir licença.