Por Izabelle Sampaio e Luisa Arêas
Entre ensaios e competições de alto cacife , onde a perfeição é a norma dentro dos ginásios e cada movimento é calculado, Simone Biles não basta ser uma ginasta de elite, é também ícone ou como os americanos a chamam: The GOAT ( greatest of all time= a melhor de todos os tempos). Ao longo de sua carreira, Simone acumulou 30 medalhas em campeonatos mundiais, sendo 23 delas de ouro. Entretanto, nos bastidores de suas apresentações de saltos surreais que desafiam a gravidade Biles passa por desafios não vistos: a luta pela saúde mental.
De “turtle” a “GOAT”
Simone Biles Owens, nascida em 14 de março de 1997, em Columbus, Ohio, começou a treinar ginástica ainda jovem, aos seis anos de idade. Um imprevisto envolvendo o clima impediu que uma excursão de escola fosse realizada, e as professoras decidiram fazer uma visita a um centro de ginástica. Ao chegar em casa, Simone apresentou a ideia aos pais, e, dois anos depois, foi descoberta pela treinadora Aimee Boorman, que a acompanhou no início de sua carreira. Seu talento rapidamente se tornou evidente, mostrando desde cedo seu grande potencial.
Sua trajetória ascendente começou em 2013, aos 16 anos, quando conquistou duas medalhas de ouro no Campeonato Mundial de Antuérpia, incluindo o título geral. Essa vitória a posicionou como uma figura importante no cenário internacional. Com muita dedicação, Simone brilhou nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, ganhando quatro medalhas de ouro e consolidando seu nome entre os maiores da ginástica mundial.
Mente e corpo no limite
Simone, ganhou destaque global não apenas por suas conquistas, mas também por sua coragem em enfrentar crises pessoais e expor a complexidade da vida de uma atleta de elite. Durante as Olimpíadas de Tóquio 2020, realizadas em 2021 devido à pandemia, Biles tomou uma decisão que ressoou além do mundo do esporte: desistir de cinco das seis finais para priorizar sua saúde mental. Ela enfrentava uma crise conhecida como “twisties”, uma perigosa desconexão entre corpo e mente, que poderia ter causado graves lesões se continuasse competindo. Porém a atitude que foi vista como de forma súbita e desmedida para alguns foi, na verdade, uma decisão assertiva e corajosa.
A Pauta é Saúde Mental!
Biles enfatizou que sua escolha não foi uma simples desistência, mas sim uma medida essencial para reservar seu bem-estar. Em seu documentário “O Retorno de Simone Biles”, da Netflix, ela compartilhou que essa crise foi apenas a manifestação mais recente de uma luta interna prolongada e sensível, gravada pelos traumas do abuso sexual cometido por Larry Nassar, ex-médico da equipe de ginástica dos EUA.
Esses abusos, somados à pressão intensa das competições, resultaram em diagnósticos de depressão e ansiedade. A decisão da atleta foi mais do que uma decisão nas competições; tornou-se uma declaração
poderosa sobre a importância da saúde mental. Em um ambiente onde atletas são pressionados a ultrapassar seus limites físicos, Biles se destacou como porta-voz da auto aceitação e da vulnerabilidade. Com sua visibilidade, ela abriu o diálogo global sobre o bem-estar mental dos atletas, destacando a relevância da saúde mental dentro e fora do esporte.
Biles em entrevista à NBC afirma:”Não é só sobre a ginástica”; “É sobre como você se sente, como você está mentalmente e emocionalmente. Às vezes, precisamos reconhecer que é importante tirar um tempo para nós mesmos.” A atitude de Simone Biles em priorizar sua saúde mental ecoou globalmente. Sua decisão serviu de exemplo para outros atletas e pessoas comuns falarem sobre suas batalhas pessoais e buscarem ajuda. Profissionais da área de saúde mental e especialistas aplaudiram Biles por suas atitudes, especialmente por seu papel em desestigmatizar problemas psicológicos e legitimar a importância da saúde mental.
Simone Biles, além de lidar com seus próprios obstáculos, utilizou sua plataforma para combater injustiças. Em setembro de 2021, ela prestou depoimento contra Larry Nassar, um ex-médico da equipe de ginástica dos Estados Unidos, acusado de abuso sexual. Biles acusou tanto Nassar quanto o sistema, incluindo a Federação de Ginástica dos Estados Unidos (USAG) e o Comitê Olímpico, de manter os abusos. No documentário, ela revela os traumas emocionais enfrentados, enfatizando a relevância do apoio psicológico no esporte. Sua coragem ajudou a criar debates sobre a saúde mental dos atletas e a necessidade de mudanças nas organizações esportivas.
Simone Biles é uma inspiração não apenas por suas conquistas, mas também por sua resiliência e bravura pessoal. Além de estabelecer novos padrões na ginástica, ela tem sido uma defensora da saúde mental, demonstrando que até os grandes campeões enfrentam batalhas internas. Sua carreira é um exemplo de dedicação e inovação, e Biles continua a inspirar ao destacar a importância de cuidar do bem-estar físico e mental.