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Porque Kids See Ghosts é (quase) perfeito

Por Arthur Marques

Pouquíssimos projetos musicais são dignos de receber a alcunha de “perfeito”. Provavelmente, o perfeito nem mesmo existe num âmbito tão subjetivo como o das artes. Perfeição implica que algo é o melhor possível; nada precisa ou mesmo pode ser mudado para o aprimoramento daquele determinado objeto. É simplesmente perfeito. No caso de um álbum, implica que todas as faixas do mesmo estão funcionando precisamente como deveriam, tornando aquela obra coesa. Soam exatamente como devem soar, e duram exatamente quanto devem durar. Nada a tirar, e nem a pôr. Apesar de ser difícil apontar um disco que apresente essas características, há os que, no mínimo, chegam perto. O álbum colaborativo de Kanye West e Kid Cudi, Kids See Ghosts, lançado em 2018, é um exemplo disso.

O disco é mais uma das inúmeras colaborações de Kanye com Cudi: desde 808s & Heartbreak, álbum de Kanye West lançado 2008, Kid Cudi esteve presente em quase todos os discos lançados por Ye, sendo Kanye uma presença também muito frequente nos projetos de Kid Cudi. Essa parceria de longa data entre os dois artistas culminou, finalmente, em Kids See Ghosts, lançado em oito de junho de 2018. Suas sete faixas, apesar de passearem por diferentes temáticas, acabam retratando frequentemente uma questão presente na vida de ambos os artistas, e na época, especialmente de Kid Cudi: a saúde mental. 

Cudi passou por um processo de reabilitação por conta de depressão, abuso de drogas e pensamentos suicidas em 2016, na época em que Kanye estava em turnê divulgando seu álbum The Life of Pablo, lançado no mesmo ano. O artista já revelou, em entrevista, como foi esse processo e como essa união artística com  Kanye, como o projeto Kids See Ghosts como um todo foi de grande ajuda para que ele saísse dessa situação. A quinta faixa “Reborn” retrata, de maneira brilhante, essa transição, um verdadeiro renascimento não só de Cudi, mas também de Kanye West em relação à seus erros e problemas pessoais passados, reforçando a importância de “seguir em frente”. Pessoalmente falando, essa é provavelmente a melhor e mais forte faixa do projeto, que demonstra em todos os seus quesitos as qualidades e demais características do projeto.

A temática é forte responsável pelo nível de qualidade no projeto, mas outros fatores também merecem ser destacados. A duração do álbum é bem curta, apenas 24 minutos, sendo uma experiência extremamente enriquecedora em pouco tempo. É impossível não comentar também sobre a produção de Kanye West. Todos os instrumentais e samples são construídos perfeitamente e cumprem de forma precisa sua função nas faixas, com destaque pessoal para Reborn, 4th Dimension, Fire e Feel the Love. Kanye também produziu inteiramente outros quatro álbuns nesse mesmo ano, sendo eles o seu disco solo ye, o indicado ao Grammy de Melhor Álbum de Rap do Ano Daytona, de Pusha T, NASIR, de Nas e K.T.S.E, de Teyana Taylor, todos esses com uma produção também muito acima da média.

Kids See Ghosts fez apenas seis anos em 2024, mas com certeza já pode ser considerado um clássico da música moderna. Um disco que toca em pontos delicados da vida de ambos os seus realizadores, que possui uma carga emocional fortíssima e uma execução na mesma medida. Kids See Ghosts pode até não ser perfeito, mas com certeza está entre os projetos que chegam muito, mas muito perto.

Escute o álbum completo no Spotify!

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