Por Priscila Borges
A crise climática é uma das questões mais urgentes da atualidade, com impactos crescentes em ecossistemas, comunidades e economias globais. No Brasil, os efeitos da degradação ambiental são sentidos de forma especialmente intensa, devido ao desmatamento e às queimadas, que ameaçam a Amazônia e outras regiões. Este texto tem o intuito de explorar as principais causas e consequências da crise climática no país, com foco nas populações mais vulneráveis e nas iniciativas de resistência e sustentabilidade promovidas por comunidades tradicionais.
Os estudos sobre o aquecimento global e suas possíveis consequências têm sido anunciados desde o final do século XX por cientistas. Esse aquecimento é causado pelos gases de efeito estufa, emitidos normalmente pela queima de combustíveis fósseis, uma questão discutida ao nível mundial. No Brasil, a emissão dos gases se dá principalmente pelo desmatamento da Amazônia, provocado pelo agronegócio, que visa à criação de pasto para gado e ao plantio de monoculturas para exportação.
Uma das consequências previstas seria o aumento da temperatura mundial, e o mundo concordou, em Paris, no ano de 2015, em frear as emissões dos gases antes de chegarmos ao nível de 1,5 graus de aumento de temperatura. Como é de se esperar em um mundo capitalista, chegamos a essa marca, e as consequências disso apareceram mais rápido do que imaginávamos.
O Brasil é casa da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia — também chamada de pulmão do mundo —, que hoje sofre uma seca jamais vista. O oitavo maior rio do mundo, o Rio Madeira, está com apenas 25 centímetros de altura e tornou-se inavegável; as águas deram lugar a enormes bancos de areia. O sul do país sofre com anomalias climáticas, como chuvas intensas, que causam enchentes e obrigam as pessoas a saírem de suas casas, transformando milhares de brasileiros em refugiados climáticos. Segundo o relatório da ONU de outubro de 2024 sobre a crise climática, o Brasil teve o maior número de pessoas deslocadas por enchentes em 2022.
Historicamente, desde a colonização, os povos nativos vêm sendo expulsos de seus territórios. Hoje, as grandes empresas continuam esse movimento para a construção e o desenvolvimento de seus grandes empreendimentos, como o agronegócio já citado, o setor energético com a construção de hidrelétricas, as grandes mineradoras, o garimpo de pedras preciosas e a exploração de petróleo. Esses empresários ainda veem o Brasil como colônia e pretendem fazer de tudo para obter seus lucros à custa do bem comum.
Além de todos esses problemas e suas consequências, atualmente a floresta amazônica e o Pantanal estão pegando fogo, literalmente. Inúmeros focos de incêndio criminoso, iniciados por essas empresas que desejam as terras que deveriam ser de preservação, estão gerando consequências para todo o país. São lugares úmidos que geram massas de ar que levam as chuvas para toda a América Latina. Com as queimadas, o que as massas de ar estão levando são ventos com fumaça tóxica, que atingem todo o centro, sudeste e sul do Brasil. Os dias têm ficado nebulosos, e o tempo seco tem alastrado as queimadas para o restante do país.
O Brasil arde em chamas, e as consequências da crise climática atingem primeiramente as populações tradicionais, que utilizam e fazem o manejo sustentável da natureza. Essas populações são as que menos contribuem para a emissão dos gases e as que mais contribuem para sua diminuição, exercendo a proteção e o reflorestamento. Seu modo de vida é completamente impactado por todas essas mudanças, e hoje estão asfixiando com toda a fumaça tóxica. Também são eles que se colocam diariamente na linha de frente para apagar os incêndios, muitas vezes sem ajuda governamental. Os povos e comunidades tradicionais já estão vivendo a crise climática em um nível que não conseguimos enxergar. A previsão é de que, com esse modus operandi, a Amazônia chegue a seu ponto de não retorno, e o futuro será um grande deserto.
Os povos e comunidades tradicionais cuidam e protegem o meio ambiente, pois entendem que somos parte da natureza. Essa conexão flui organicamente, permitindo uma visão de cuidado com o mundo diferente. Isso é algo que desaprendemos desde a chegada da era moderna, quando começamos a explorar o planeta e a separar a mente do corpo, dando lugar apenas à razão e colocando o homem em um lugar superior e no centro de tudo. Temos visto e sentido as consequências dessa escolha, que só aumentarão com o passar do tempo. Quem serão os próximos atingidos?
A ativista indígena Txai Suruí diz que devemos cuidar da natureza para podermos prosperar, pois a Terra vai permanecer, e quem vai perecer será o ser humano. Não podemos esquecer que somos parte da natureza, e a natureza faz parte do que somos; nós somos seres do território. Nós nos esquecemos de que, apesar de estarmos no meio da cidade, ainda estamos integrados ao bioma ao nosso redor.
A crise climática não é apenas uma questão ambiental, mas uma crise de direitos humanos e justiça social que afeta diretamente as populações mais vulneráveis. O Brasil, com sua rica biodiversidade e seus recursos naturais, tem uma responsabilidade global na luta contra as mudanças climáticas. A promoção de políticas sustentáveis e o respeito às populações tradicionais são passos essenciais para um futuro mais justo e equilibrado.