(Créditos: Luisa Arêas)
Texto por Carla Dias e Helena Dornelas
Editado por Raíssa Barbosa
Apesar do crescimento expressivo no número de participantes no Intercom 2025 — um dos principais congressos acadêmicos voltados à área de Comunicação no Brasil —, o evento evidenciou uma disparidade significativa: a predominância de estudantes de universidades privadas na participação e na apresentação de trabalhos científicos.
De acordo com relatos de estudantes e especialistas presentes no congresso, essa diferença é impulsionada por incentivos institucionais e, em alguns casos, até exigências internas das faculdades particulares. “Muitos colegas de faculdades privadas relataram que são pressionados a submeter projetos e comparecer às atividades do congresso, o que contribui para uma maior visibilidade acadêmica desses alunos”, afirma a estudante da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Luisa Arêas. “Por outro lado, alunos de universidades públicas enfrentam barreiras como a falta de investimento e o pouco incentivo interno à produção científica, o que limita sua participação em eventos desse porte”.
Beatriz Roth, também aluna da Ufes e participante do Intercom 2025, reforça a crítica, destacando a escassez de programas de incentivo à pesquisa e os cortes de verbas como entraves centrais para a atuação acadêmica dos estudantes das instituições públicas. Embora os dados oficiais do evento indiquem uma maior taxa de premiações para universidades privadas, especialistas alertam que o número reduzido de alunos das públicas distorce essa leitura.
A desigualdade está enraizada em um contexto mais amplo de precarização das universidades públicas brasileiras. Desde 2016, essas instituições operam sob os efeitos da Emenda Constitucional 95, que congelou os gastos públicos por 20 anos. “O teto de gastos impôs uma lógica de restrição orçamentária que resultou na deterioração da infraestrutura e na evasão universitária”, explica estudante de Comunicação Social e diretora de relações institucionais do Centro Acadêmico da Ufes, Sofia Iothi.
Ela também criticou o decreto n° 12.448/2025, que limitava a liberação de recursos para as universidades a apenas 1/18 do valor previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA). Após intensa mobilização dos movimentos estudantis, o Governo Federal recuou da medida e retirou as universidades e institutos federais do decreto. No entanto, Iothi ressalta: “Ainda é urgente a retirada da educação do Arcabouço Fiscal e a recomposição de R$ 2,5 bilhões no orçamento”.
Ela destacou ainda que, apesar dos esforços do Centro Acadêmico para viabilizar a participação dos estudantes no Intercom, fatores como a greve de servidores do transporte universitário, a ausência de auxílio viagem e a dificuldade de docentes para acompanhar a delegação prejudicaram a presença da Ufes no evento regional. “Isso gerou um desânimo na produção de conhecimento e mostra a urgência de mobilização por mais verbas para que a educação pública esteja à altura dos sonhos da juventude brasileira”, afirma.
Por outro lado, mesmo com maior presença no Intercom, as universidades privadas também enfrentam desafios. Segundo levantamento do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (Foprop, 2023), apenas 18% dessas instituições mantêm programas permanentes de iniciação científica com financiamento próprio. Em muitos casos, a produção acadêmica é voltada mais à obtenção de prestígio institucional do que à formação crítica e investigativa dos estudantes.