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Além do discurso: a experiência de equidade dentro da Nater Coop

Podcast Bandejão

Para tornar o conteúdo mais acessível, disponibilizamos a transcrição completa da reportagem. Assim, pessoas com diferentes formas de consumo de mídia podem acompanhar o material, seja ouvindo o podcast ou lendo o texto.

Transcrição:

Olá, eu sou Carol Reis, e você está ouvindo o Bandejão! 

Hoje vamos falar sobre um tema que faz diferença na vida das pessoas e no dia a dia das empresas: a equidade. A  Nater Coop, a maior cooperativa do agronegócio capixaba, têm um programa que promove inclusão, acolhimento e oportunidades para todos os colaboradores. Para uns pode parecer simples, mas a forma como tratamos cada pessoa pode transformar totalmente um ambiente de trabalho.

Você sabe a diferença entre igualdade e equidade?

Na igualdade, todos recebem o mesmo tratamento, já a equidade entende que cada pessoa tem necessidades diferentes e que é preciso oferecer recursos distintos para garantir as mesmas oportunidades.

Um exemplo simples: em um ônibus todos têm o direito de se sentar, mas separar lugares para aqueles que têm mais dificuldade em permanecer em pé, ou podem se machucar, garante a todos uma viagem mais tranquila e segura. 

A própria essência do cooperativismo traz a equidade como princípio. segundo o manual de boas práticas de governança cooperativa, o senso de justiça significa oferecer a todos os cooperados não apenas igualdade, mas também equidade, nas relações com a cooperativa e com a comunidade ao redor. dentro das empresas, a equidade pode ser o diferencial entre equipes desmotivadas e ambientes saudáveis, produtivos e inovadores. É nesse solo que a Nater Coop   constrói suas ações.

Segundo a organização internacional do trabalho, ambientes inclusivos aumentam em até 59% o engajamento das equipes e ampliam em 20% a capacidade de inovação.

Mas, afinal, como colocar a equidade em prática? Como fazer do discurso uma realidade concreta? É exatamente isso que vamos conhecer na experiência da Nater Coop.

A cooperativa nasceu em 1964, com 20 produtores de ovos em Santa Maria de Jetibá. Ao longo das décadas, diversificou as áreas de atuação, entrando em segmentos como agroindústria, bovinocultura, cafeicultura, horticultura e varejo. Hoje, reúne mais de 24 mil cooperados, emprega 1.400 colaboradores e está presente em mais de 40 cidades do Espírito Santo e de Minas Gerais. 

É a maior empresa do agronegócio capixaba, mas seu maior diferencial não está apenas nos números, está em como ela cuida de pessoas.

Criar espaços de escuta, que não seriam criados naturalmente.

É para isso que nasce o programa acolher. A iniciativa é voltada para a saúde emocional e o bem-estar. dentro dele, surgiu o grupo Diversidade | Vozes Nater Coop, criado inicialmente para acolher pessoas LGBTQIAPN+, e que hoje também integra pcds e outros grupos que muitas vezes não encontram espaço em ambientes corporativos.

O Kalel trabalha na Nater Coop há dois anos, foi promovido duas vezes e hoje é assistente administrativo. 

Kalel Santana: Eu entrei cheio de vontade de aprender e ao longo do tempo eu fui crescendo, conhecendo pessoas incríveis, me sentindo cada vez mais parte dessa dessa família e cada desafio que enfrentei, eu trouxe também aprendizado e hoje eu consigo olhar para trás e ver o quanto eu evoluí, tanto profissional na mente quanto pessoalmente.

Participar desse grupo significa muito para mim, porque é um espaço onde eu posso falar, ouvir, compartilhar experiências e me sentir representado. É um lugar onde cada voz importa e onde a gente constrói junto uma cooperativa inclusiva e respeitosa. É um espaço de acolhimento que tem um impacto muito significativo. 

No lado profissional me dá mais confiança para ser quem eu sou no dia a dia, sem medo. Já no pessoal me fortalece, porque eu levo daqui aprendizados, conexões que fazem diferença na minha vida, fora da cooperativa. 

Eu acho que encontrar no Orgulho Nater um espaço onde eu posso ser eu mesmo foi transformador. É libertador poder mostrar a minha identidade de verdade sem nenhum tipo de máscara. Isso me deixou mais leve, no trabalho, mais produtivo e mais feliz e na vida pessoal me trouxe um pouco mais de orgulho e autoestima.

O grupo começou pequeno, com 12 integrantes, e hoje já reúne mais de 30 colaboradores em encontros mensais, rodas de conversa e formações. É um espaço seguro, onde cada voz importa.

E tudo isso só é possível porque foi pensado por alguém que sentiu na pele o que é não ser visto. O psicólogo Stefhan Ratske é o idealizador do programa acolher. Cego desde os cinco anos de idade, foi ele quem percebeu a necessidade de criar um espaço verdadeiramente inclusivo dentro da cooperativa. Ele explica que tudo começou com um estudo da cultura organizacional e das demandas internas.  

A experiência de Stefhan no setor público e privado ajudou a estruturar o programa de forma sólida. Hoje, ele é reconhecido nacionalmente e já conquistou o Prêmio Ser Humano, da Associação Brasileira de Recursos Humanos.

São as histórias pessoais que dão vida ao que a equidade significa na prática. Cada colaborador encontra no programa acolher um espaço diferente: de acolhimento, de escuta ou de crescimento, mas todos compartilham da mesma certeza — de que ali podem ser quem realmente são.

Juliana Moreira é contadora e líder de equipe da Nater Coop. Sua jornada começou  há 23 anos, quando integrou ao time como recepcionista, de lá para cá, foram incontáveis aprendizados. 

Juliana Moreira: Para mim, a cooperativa é a segunda casa. O que me motivou a entrar no programa acolher, foi o desejo de ajudar a construir um ambiente onde essa casa seja verdadeiramente segura e também que ela pudesse ser receptiva para absolutamente todos. Eu enxerguei a chance, não só de encontrar esse ponto de apoio, mas de ser um agente. É sobre ter voz, vez, acima de tudo, sentir que pertencemos de verdade. 

E esse impacto, ele é gigantesco, vai muito além dos nossos encontros. É uma segurança de saber que existe um espaço formal de escuta e respeito dentro da empresa, isso torna um ambiente de trabalho mais leve e até entre as relações com os colegas. Fica mais verdadeiro. E essa segurança psicológica, ela se reflete em tudo, na motivação do dia a dia, na minha produtividade, na forma como eu colaboro com a minha equipe, e esse espaço, ele é um lembrete diário de que a Nater, ela valoriza as pessoas, e tudo o que tá atrás desse desses profissionais. E isso não tem preço. 

Assim como Juliana, muitos colaboradores mostram que investir em equidade não é um gasto, mas um investimento no futuro da organização. Histórias como a de Juliana e Kalel revelam que, na Nater Coop , crescimento profissional anda lado a lado com cuidado humano. 

Mas olha só: falar de inclusão vai além do discurso. Não basta aparecer em campanhas, é preciso viver isso no dia a dia — e é nesse ponto que a Nater Coop se diferencia.

Diones Fernando Treichel é líder técnico da Nater Coop. Para ele, o programa acolher é mais do que um exemplo de política de equidade na prática: é também um exercício constante de empatia. Afinal, se colocar no lugar do outro e compreender dores que nem sempre são visíveis é parte essencial dessa construção.

Diones Fernando Treichel: O que mais me marcou nas rodas de conversa ou encontros do programa, foram as experiências trazidas pelas outras pessoas, porque muitas vezes a gente não imagina as dificuldades ou situações que outras pessoas passam ou já passaram na vida e colocar-se no lugar dessas pessoas, às vezes pode ser algo muito tocante. Muitas vezes a gente talvez não passou por uma experiência difícil, mas outras pessoas passaram.

Então, acho que o que mais me tocou foram histórias que foram compartilhadas nesses encontros que que de certa forma tocaram profundamente questões sentimentais ou até de empatia, que a gente às vezes não faz ideia. A gente vê aquela pessoa ali vestindo a camisa da empresa, mas não sabe o que essa pessoa talvez já passou ou o que ela ainda passa.


Bom, os relatos de Juliana, Kalel e Diones mostram, cada um à sua maneira, que a equidade não está no papel, mas no cotidiano. É no acolhimento, na escuta e no espaço para ser quem se é que se constrói uma cultura verdadeiramente cooperativista.

Para entender ainda melhor a importância da equidade nas empresas, nós ouvimos a psicóloga Roberta Pires de Souza.

Roberta Pires de Souza: É muito importante que as empresas criem espaços de promoção de saúde mental dos seus trabalhadores, dos seus colaboradores. estamos falando especialmente de colaboradores, LGBTQIAPN+, pessoas negras, pessoas com deficiência, no sentido de terem espaços de inclusão, de conversas psicoeducativas, especialmente, onde se possa esclarecer, falar, dialogar sobre temas muitas vezes muito sensíveis que tocam profundamente a vida dessas pessoas. políticas de inclusão, espaços de acolhimento são fundamentais quando percebemos os números dos trabalhadores apresentando ansiedade, exaustão, estresse, Burnout, Síndrome do Pânico, Depressão.

Por quê? Porque não se sentem pertencentes muitas vezes nos seus espaços de trabalho, se sentem excluídos, se sentem desrespeitados, por isso é tão importante a gente pensar em frentes como ações psicoeducativas e também espaços de acolhimento onde esse ser humano, onde essa pessoa seja acolhida na sua diversidade. Promover espaços de equidade é também diminuir as queixas desses colaboradores, muitas vezes mais vulneráveis, quanto ao espaço de não pertencimento, de insegurança, de invisibilidade dentro do próprio espaço de trabalho. 

A Organização Mundial da Ssaúde estima que a depressão e a ansiedade custam à economia global cerca de 1 trilhão de dólares por ano em perda de produtividade. No Brasil, pesquisas da Fundação Oswaldo Cruz mostram que trabalhadores LGBTQIAPN+ em ambientes pouco inclusivos têm mais risco de desenvolver ansiedade e depressão. Já a Organização Internacional do Trabalho aponta que políticas de equidade reduzem em até 30% os afastamentos por questões de saúde mental, ou seja, investir em equidade não é apenas uma questão de justiça social, mas também de cuidado com quem faz a organização acontecer.

No fim das contas, falar  de equidade é falar de humanidade. é reconhecer que cada pessoa carrega uma história, um ritmo, uma necessidade diferente. que ninguém floresce sozinho. A Nater Coop mostra que, quando olhamos para o outro com respeito e oferecemos as condições para que ele cresça, todos crescemos juntos.

Porque a verdadeira força de uma cooperativa, e de qualquer organização, não está apenas nos números, mas nas pessoas. É na diversidade que descobrimos novos caminhos, e é na equidade que aprendemos a caminhar lado a lado.

E talvez seja justamente aí que mora o futuro: em não deixar ninguém para trás.

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